sábado, março 29, 2008

Há dois tipos de cidades.

Há dois tipos de cidades: Paris e as outras.



| auto-retrato sobre paisagem romântica | paris | março de 2008 |

quarta-feira, março 19, 2008

Crónica de uma não crónica.

No domingo passado juro que pensei numa crónica ácida sobre o comício do PS. Não é todos os dias que as "minhas" ruas são colocadas no mapa. De um momento para o outro o país todo discutia a dimensão, a cor e importância do pavilhão do Académico...

Sábado à tarde por pouco não fui atropelado pelo BMW do Manuel Pinho. Costa Cabral tinha sido de repente transformada numa zona de lazer da nossa classe governativa. Um camião TIR cagado no meio da rua suportava um ecran gigante. Com os carros dos ministros parados atabalhoadamente e os agitadores de bandeiras a ocupar a rua era impossível passar por ali. E tal como eu, muitos outros portuenses ao observar "aquilo" viravam costas. No Marquês as pessoas espreitavam o dito ecran - mas ninguém se aventurava pela rua adiante. Por ali viam-se os velhinhos de boina que aproveitam estas ocasiões para tomar os seu banhinho e dar gratuitamente uma volta de autocarro.

Ao comprar pão observei rapaziada da JS a lanchar e a ler jornais desportivos. Sócrates discursava ufano naquele preciso momento. Como é evidente aqueles elementos da JS eram os mais inteligentes das redondezas. Vestiam de amarelo. Matutei: que outra cor poderia a JS ter escolhido? O pão estava quente e a minha filha chamava-me à realidade.

Vi no dia seguinte aquilo que só pude imaginar: os ministros rodeados de gente que os aplaudia, que os elogiava, que os incentivava entusiasticamente. Todos sorriam, o país avançava: a nação podia dormir mais uma noite tranquila.

Mas... que espécie de pessoa se pode deixar entusiasmar por uma "coisa" daquelas. Um ambiente próprio de um estádio de futebol... Um ministro? Os maiores responsáveis do país? Os nossos melhores quadros?

Aquilo resume-se a uma "eurodisney" para ministro ver. Um cenário para o primeiro-ministro brilhar. Um destes dias os papalvos nem sequer são militantes e tudo se resume a uma encenação hi-tech com figurantes pagos - se é que já não é assim...

A ironia: ali ao lado, a menos de 10 metros do pavilhão do académico, a antiga obra social do Ministério das Obras Públicas. Uma das melhores instituições da cidade para crianças: com profissionais competentes, um exemplo de "melhores práticas" e ainda por cima estatal. Em menos de um ano foi deixada no limbo das decisões ministeriais, ameaçada de fechar e/ou de ser desmembrada. Mas, como é evidente, da mesma forma que quem visita a Eurodisney não espera encontrar por lá gente sem-abrigo, ali ninguém estava propriamente interessado em ouvir falar de "coisas desagradáveis".

No domingo felizmente não me ocupei de palermices.



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