sábado, outubro 23, 2004

Gente sem lugar

Há evidentemente muitos invisíveis nas nossas vidas. «Evidentemente» não será talvez o termo mais correcto. Se assim fosse, invisíveis não seriam. Esta história passa-se em Canary Wharf, Londres, grande centro financeiro mundial, onde os parques de estacionamento estão cheios de carros que valem mais do que aquilo que muitos amealharão ao longo de uma vida. Os grandes arranha-céus – imponentes e muito apreciados – são limpos por mulheres imigrantes que deles se ocupam invisivelmente (pois claro) no momento em que todas as gravatas abandonam o edifício. O seu salário é inferior ao salário mínimo. O horário de trabalho é próprio dos tempos da revolução industrial. A sua vida estará muito distante do conforto proporcionado por um BMW série 7. Tudo isto é repugnante e, bem vistas as coisas, até mesmo ilegal. No entanto nada disto preocupa grandemente quem de direito, atrevo-me até a dizer que tudo isto lhes serve muito bem...
O que faz então a lei nestas circunstâncias? Proíbe a visibilidade destas mulheres e repreende a sua capacidade organizativa. Ao permanecerem invisíveis é como se nem sequer existissem e os números da bolsa podem continuar no seu sobe e desce nos grandes prédios de vidros espelhados.

Há quem procure justificar a sua existência. Há gente que procura apenas o direito a existir. Os primeiros fazem parte dos filmes do Woody Allen. Os segundos fazem parte dos filmes do Ken Loach.


| Canary Wharf | Londres | 15 Outubro 2004 |

sábado, outubro 09, 2004

Maria do Patrocínio Ranção

Mais conhecida na terra como a Rançona.
Reza a um fanático integrista.
Procura convencer os restantes da sua benevolência.
Abarbata-se a meia dúzia de fotos com uma desculpa filial.
O seu sucesso nesse domínio não resulta da minha simpatia pelo referido fanático.
Rais partam as religiões.

A Arménia é muito longe, apesar de na América me considerarem caucasiano.


| A Rançona e o seu santinho | Julho 2004 |