terça-feira, janeiro 25, 2005

Caro senhor

Desculpe senhor o facto de na verdade não me ver como um assassino. Assassino no sentido daquele que mata. Desculpe senhor. Nem percebo porque razão, senhor, aquele que apoia tropas para invadir um país em paz com o mundo não é olhado como um assassino. Matar, para mim, sempre foi aquilo que se faz com pistolas, canhões e coisas que tais. Admito que possa estar enganado, senhor.

Bem sei que o senhor tem contactos directos com Nossa Senhora de Fátima e será ela quem, com transcendental sabedoria, lhe aponta o trilho da vida, da humanidade e dos homens bons. Desculpe senhor. Tem toda a razão. Pode nunca ter ido à tropa mas pode brincar às guerras e aos submarinos. Brincar faz bem. É saudável. É um direito dos cidadãos.

Pode ser-se homossexual, declamar-se odes à Santa Madre Igreja e venerar-se de forma rastejante a família patriarcal. Pode sim senhor. Brincar com a pilinha faz bem. É um direito dos cidadãos, ainda que o senhor não o reconheça. Pode ser-se uma respeitável figura pública e ser-se um valente filho-da-puta. É verdade sim senhor. A vida em sociedade é feita destas hipocrisias que todos reconhecem mas que ninguém assume.

Desculpe por isso senhor, nunca foi minha intenção chamá-lo à atenção pela forma insultuosa como me trata. Creio ser um direito que lhe assiste a si. Mas não a mim, como é bom de ver.


| TNSJ | Vilar de Perdizes | TNSJ | Há uns anos atrás |

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Ali vai S. Gonçalo.

À porta de casa, uma festa religiosa onde a igreja tem um papel menor. Coisa rara. Coisa divertida. Coisa séria. Não é todos os dias que a cabeça de um gigantone (ou de vários, para ser correcto) é lambuzada por um bom milhar de beiças. Ele é nosso. É, é, é, é...



| Mareantes do Douro | Gaia | 16 de Janeiro de 2004 |

sábado, janeiro 08, 2005

De onde vem a vontade de fugir...

Pôncio, nascido e criado em Azevedo de Campanhã, guardava dos seus tempos de infância o desejo paterno de que ele um dia fosse alguém na vida. Foi o seu tio, contrabandista de material electrónico vindo de Andorra e vendido na rua do Loureiro que lhe permitiu abrir o seu primeiro escritório de advocacia. Pôncio nunca quis ser advogado. Pôncio guardava o desejo paterno de ser alguém na vida, mas do que ele gostava mesmo era de futebol.

Jorge Nuno apareceu um dia na vida de Pôncio. Jorge Nuno também gostava muito de futebol. O amor foi revelado público dias depois e casaram-se na Holanda com duas catraias de 24 anos. Durante a lua de mel na República Dominicana, zangaram-se. Isto porque num jogo de futebol entre amigos, Jorge Nuno conseguiu que um penalti inexistente fosse claramente visto por toda a gente.

A minha cidade nem sequer precisava de ser mais bonita para parir gente menos decadente.


| Jardim do Retiro | Dez 04 |

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Maré Alta.

«Uma foto de uma coisa que gostamos muito, não é necessáriamente uma foto de que gostamos muito.»

Tenho algumas dúvidas, mas como se anda a tornar hábito, não penso muito nisso.


| Women on Waves | Figueira da Foz | Set 2004 |