sábado, outubro 27, 2007

domingo, outubro 21, 2007

A produtividade, ora aí está, quer dizer...

Um dia sentirei inspiração para descrever como reparar uma máquina cujo disco RAID não funciona, ao mesmo tempo que se pensa em mudar radicalmente o template do blogue, ao mesmo tempo que se aprende em simultâneo duas novas linguagens de programação, ao mesmo tempo que se descobr parte do ovo de colombo. Hoje não me apetece.




| porto | setembro de 2007 |

quinta-feira, outubro 18, 2007

Caro deus, um pouco de fé...

Encontrei-o poucas vezes ao longo da vida. Imagino que como pessoa ocupada que é, tenha mais que fazer do que prolongar a sua eterna existência com minudências como é a minha vida quotidiana. No entanto, dos poucos encontros que tivemos, saliento o facto de serem sempre sexta-feira à noite. Percebe-se bem. A sexta à noite é para ele um momento de descontracção, em que ele dá algum espaço para que o seu eterno compincha de profissão, Belzebu, possa por um momento divertir-se sozinho com a sorte dos mortais.

Ele não é muito falador. Compreende-se. A eternidade é muito tempo. Já leu todos os livros, já viu todos os filmes, já apreciou todos os poemas, já desvendou todos os mistérios policiais, já verificou todas as contas bancárias, já ouviu todas as histórias de todos os avós, já atravessou a pé países inteiros, já provou todos os pratos de todas as culturas, já navegou todos os oceanos, já chutou todas as bolas, já disparou todas as máquinas fotográficas, já ouviu todas as línguas, já amou de todas as maneiras e já matou das formas mais selvagens.

Isso explica os monólogos que todos são obrigados a ter com ele. Eu acho isso um disparate, pelo que só tenho monólogos comigo próprio.

Mas numa dessas sextas-feiras à noite, em que descubro que num ápice devo meter-me no carro para trabalhar toda a noite, percebo que o gajo me decidiu dar alguma atenção. Os problemas prolongam-se noite fora, o estômago vazio, o ar condicionado ronca infernalmente... nada do que aprendi me serve para fazer funcionar o equipamento que tenho à frente... Repito várias vezes: «não acredito».

E precisamente às 5:38h, enquanto matraqueio o teclado, no meio de telefonemas que me azucrinam o juízo, observo na consola...

Apr 1 05:38:43.072: %LINEPROTO-5-UPDOWN: Line protocol on Interface Serial0/0/0:5, changed state to down
Apr 1 05:38:44.589: %OSPF-5-ADJCHG: Process 1, Nbr 172.20.50.253 on Serial4/1 from LOADING to FULL, Loading Done
Apr 1 05:38:51.479: %SYS-5-CONFIG_I: Configured from console by joaoluc on vty0
Apr 1 05:38:54.883: %MESSAGE-FROM-HIM: Non believers always did my day.
Apr 1 05:38:56.147: %MESSAGE-FROM-HIM: :)

Num ápice o ar condicionado apaga-se, o velhinho 7500 dá o seu último "ai". Circulo pela sala à procura de um disjuntor disparado. Nada. Tudo parece normal. Mas quando chego junto ao PC ele está com o ecran azul do windows. Repito: «não acredito» e fico à janela a apreciar o silêncio e as luzes amarelas na avenida deserta.

Na segunda-feira seguinte confirmo: as mensagens no servidor SYSLOG terminam às 05:37h. Irra, não acredito.


| Lisboa | Setembro de 2007 |

terça-feira, outubro 16, 2007

Chega de Bois

A tarde foi maravilhosamente bem passada. Umas duas mil pessoas no meio de um descampado para verem as bestas pegadas. Ao contrário do que é habitual hoje em dia em qualquer sítio não andava por lá ninguém com máquinas digitais (nem outras).

Converso com os donos dos animais. Vêm de longe para ganhar meia dúzia de trocos. Percebo que se preocupam genuinamente com eles. A vida tem destas contradições.

Vou cruzando olhares e sorrisos com desconhecidos. A dada altura chamam-me. Perguntam-me para que jornal trabalho e se podem ficar com as fotografias. Explico que não há problema nenhum. O único problema é que são a preto e branco e não sei quando ficarão reveladas. Tudo bem.

Passado uns dias respondo a uma mensagem de correio electrónico:
«Quando falámos, não tinha percebido que gostavam de as publicar num artigo de jornal. Confesso que não é coisa que me agrade muito, porque as reportagens deveriam ser feitas por fotojornalistas e não por amadores ou por curiosos que trabalhem gratuitamente. A médio prazo isso prejudica-nos a todos enquanto cidadãos.»

Depois de conversar com alguns amigos, acabei por pedir simbolicamente 25€ por cada fotografia usada. Nunca mais recebi qualquer resposta. :)

sexta-feira, outubro 05, 2007

Bloco de notas.

a) Um aperto no peito.
[e algum, posso dizê-lo, orgulho.]

b) Um sorriso:
«(...)como as pessoas que se julgam importantes falam com mais à-vontade de guerras e mortos do que de corpos e sexo, que é coisa que toda a gente tem ou faz.»
[Isto aplica-se a algumas pessoas que eu conheço...]

c) uma gargalhada:
Não gosto de amadores, nem da Amadora. Mas gosto de amantes.
[sobretudo vindo de alguém que parece um tonto vaidoso, que fotografa medianamente e, só por vezes, acerta no que escreve. Aqui, no meio de tanta coisa, acertou nalgumas.]



Acabo de descobrir que a Olympus mjuII com que fotografei nos últimos tempos tem personalidade própria e provoca uns efeitos estranhos na película. Provavelmente uma entrada de luz.


| miradouro da graça | lisboa | setembro de 2007|

terça-feira, outubro 02, 2007

Dia 7.1

Estou sentado sozinho no meio do aeroporto. Tenho nas mãos uma garrafa de água que devo acabar de beber antes de passar pelo controlo de segurança. Ao meu lado senta-se um homem. Senta-se e suspira. Olha para mim. Não ligo. Olha para mim de novo e pergunta-me: "Monsieur, vous parlez français?".

É Engenheiro Mecânico a estudar/trabalhar na Bulgária. Em cinco minutos conta-me como perdeu o avião para a Argélia. O autocarro que o trazia de Varna para o aeroporto atrasou-se e o próximo avião é dentro de uma semana.

Estava a dormir no aeroporto. Sem dinheiro para ficar alojado num hotel. Sem visto para o espaço Schengen que lhe permitisse encontrar alternativas nos grandes aeroportos do centro da Europa. Sem qualquer apoio da embaixada argelina. Na Argélia já era fim-de-semana. Na Europa o fim-de-semana começava amanhã. A máquina de fazer salsichas, que é a burocracia fronteiriça, triturou um homem por engano mas ninguém a pode desligar.

A meio da conversa pergunta-me se conheço alguém na embaixada portuguesa que o pudesse desenrascar. Estava calmo e não me pediu dinheiro. Isso faz-me hesitar e puxar pela carteira. Hesito, hesito e não puxo pela carteira. Sei que 20€ provavelmente o desenrascavam por dois dias.

Dirijo-me ao controlo de segurança. Ninguém saberá da história deste homem. Nem eu próprio me lembrarei dela daqui a uns tempos.

Penso: uma viagem acaba sempre em casa.

[carregar na fotografia abaixo]

Dia 7.0

O conselho que deixo a quem quer que visite Sófia de automóvel: deixem o carro mal estacionado, de preferência num sítio central, numa grande avenida cheia de movimento. O mais natural é que o carro seja multado e bloqueado. A multa, escrita em cirílico, será completamente imperceptível. No entanto bastará ligar para o número de telefone para resolver o assunto. Em menos de 10 minutos o carro estará desbloqueado. A taxa de serviço é muito razoável: 5 euros.

O conselho que deixo a quem quer que visite Sófia de automóvel: não deixem o carro mal estacionado a duas horas de apanharem um avião.


| mercado | sófia | bulgária | junho 2007 |

Dia 6.3

O encanto do percurso de carro pela cordilheira do norte da Bulgária faz-me ranger os dentes contra a pressa. A pressa é uma merda.

Depois de tanta volta, chegados a Sófia ainda de dia, começo a redescobrir na cidade um encanto que me tinha passado desapercebido nas primeiras impressões.

De repente, longe das largas avenidas, pequenas ruelas percorridas pelos eléctricos, jardins onde se joga xadrez e num repente dou por mim com algum conforto a ouvir falar português no meio de um grupo de búlgaros.


| xadrez | sófia | bulgária | 2007 |

Jantamos no Gepeto, carne grelhada - claro -, saladas - claro - e iogurte - claro. É a última refeição quente. Sente-se o fim da festa.

É evidente que tenho vontade de voltar a casa, até porque as férias continuarão nas semanas seguintes, mas sinto algum pesar pelo fim destas férias em particular.


| teatro nacional ivan vazov | sófia | bulgária | 2007 |

segunda-feira, outubro 01, 2007

Dia 6.1

A única discussão sobre o planeamento das férias tinha sido a passagem em Veliko Tarnovo. Eu tive que forçar a visita à antiga capital búlgara. Ficou acertada uma tarde para visitar a cidade, visita essa que acabou por ficar reduzida a menos de hora e meia. Das cidades búlgaras era a que tinha mais curiosidade em conhecer e a verdade é que fiquei com aquela sensação que ainda lá voltarei em dias da minha vida.

Chegámos lá depois de parar por pouco tempo em Kazanlak por causa de uma desdita essência de rosas. Almoçámos por menos de uns trocos numa tasca para camionistas no meio da montanha entre Kazanlak e Gabrovo.

A fotografia ao longe do Tsarevets - a cidadela antiga agora desabitada - ficou lixada por um reflexo da própria máquina na janela do hotel onde lanchámos. Não era esse o objectivo.

tsarevets
| tsarevets | veliko tarnovo | bulgária | junho 2007 |

Dia 6.0

Acordar às 06:45h. Atravessar um país de lés-a-lés em menos de nada. Lembro-me da estrada de Valladolid a Burgos. Gostava de poder parar em cada aldeia de berma de estrada. Não posso. Há maratonas que só se fazem nas férias. O avião não espera.

Numa mija de beira de estrada, disparo mais uma. Não me lembro de ver girassois na estrada para Valladolid.


| campo de girassois | na estrada entre burgas e kazanlak | bulgária | 2007 |