sexta-feira, setembro 26, 2008

Uns picam, outros não.

Querido Mundo,
voltando à velha discussão... Já sabes que isto ainda está por debater em frente a uns pimentos padrão e umas cervejinhas.

Vou discutir isto com menos bibliografia que tu, algo que sei que não te deixará melindrado. :-)

Para começar falo-te de um dos princípios elementares de qualquer programador iniciado: o «se, então, senão» [if, then, else]. Com esta regra de decisão tão simples, muitos problemas da humanidade têm sido resolvidos. Isso porque os computadores são só ["só" :D ] máquinas de estado. Em certo sentido não são muito diferentes dos primeiros teares mecânicos, capazes de "recordar" um padrão para a criação de um tecido.

Isto tudo por causa do Negri? Sim, por causa do Negri. Por trás da sua capa de pensador contemporâneo sinto que o Negri nesta discussão sobre a Europa comete um erro elementar. Olhar para um processo social como sendo uma condição "if, then, else" é algo que nem um programador iniciado comete. Pela simples razão que as pessoas não são máquinas de estado, nem teares mecânicos.

Defender a instituição do neo-liberalismo pan-europeu para o melhor combater é por si só um pouco esquizofrénico. Mas afirmar que um "processo constituinte" só pode ser obtido percorrendo esse caminho é o típico argumento "mecanicista", comum aliás a muitas das discussões da esquerda. Com a devida distância, é uma linha de pensamento particularmente acarinhada pelos estalinistas na sua lógica de "revolução nacional" seguida de "revolução operária", que pretende mimetizar a todo o custo e em qualquer sítio do mundo a revolução russa (paz à sua alma).

E é falso pensar que todo o "não" ao tratado/constituição é exclusivamente uma resposta nacionalista, como de forma tão divertida o desmontou o Paco.

Esta é uma discussão exclusivamente táctica. Ao fim e ao cabo nunca se discute a essência do projecto. Mas penso que poderíamos mandar um mail ao Negri, mandando-o passear com o seu argumento profético "if, then, else". É um argumento que não poderemos aceitar, excepto se estivermos a falar de software.

:p

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| a multitude e um acordeão | euro 2004 | porto | 2004 |

domingo, setembro 21, 2008

Negri strikes back

Num artigo no diagonal, António Negri, relança uma discussão que será central em 2009 (se é que não central há muitos anos).

Dos anticorpos mútuos que guarda com correntes trotskistas europeias (a propósito, foi publicada uma tradução portuguesa de um livro que resume esse rendilhado), Negri acusa-as de fazerem coro com os Estados Unidos no sentido de derrotarem a constituição e a sua fénix, o tratado de Lisboa.

O argumento em si esclarece pouco e não junta nada à discussão. Aliás Negri poderia usar a mesma figura de estilo, acusando a extrema-esquerda europeia de fazer coro com a extrema-direita. Teria o mesmo significado intelectual.

De Negri fica-me exactamente a mesma sensação com que fiquei ao acabar de ler o Multidão: Negri fica paralisado perante a acção em política. Mas se em Multidão se encontra uma análise séria e interessantíssima do panorama internacional, este artigo é um panfleto no seu pior sentido.

É evidente que há inúmeros matizes nas formas que o "não" da esquerda toma perante a constituição e por isso o que mais surpreende é que alguém com a bagagem de Negri os escamoteie, metendo num mesmo saco um arco-iris (ou uma multitude, conforme a terminologia) de opiniões.

Parece no mínimo ridículo pensar que a Constituição poderia "afundar o Atlântico", quando o texto do novo tratado assume desde logo a centralidade da Nato no respeitante à defesa europeia. Diz assim:

"Os compromissos e a cooperação neste domínio respeitam os compromissos assumidos
no quadro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que, para os Estados que são
membros desta organização, continua a ser o fundamento da sua defesa colectiva e a
instância apropriada para a concretizar"

A Europa é a nossa terra, tal como esta é a minha rua, mas a mim deixa-me algum incómodo esta leitura de "nacionalismo europeu" que se adivinha nas entrelinhas do que escreve Negri.

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quinta-feira, setembro 18, 2008

Básico.

As vidas são um conjunto de projectos sempre inacabados. Este blogue tem essa vantagem. Nunca foi um projecto.

Tive momentos em que seguia com grande atenção grande parte dos blogues. Neste momento tenho os meus favoritos que podiam ser encontrados ali ao lado. Em geral não lia blogues apenas por limitações de tempo. Hoje vou deixar de o fazer pelos mesmos motivos pelos quais deixei de dedicar tempo às televisões generalistas.

Como habitual, passo rapidamente para o teclado alguns pensamentos soltos.

A informação que me chega da Bolívia, chega-me directamente ao correio, vinda de um amigo em Buenos Aires. Em três ou quatro parágrafos, aprendo mais sobre o conflito que em várias notícias que reduzem ao papel de vítima o embaixador golpista norte-americano e reduzem Chavez ao palhaço pobre da diplomacia mundial.

Com o historial de golpes de estado comprovadamente orquestrados pelos Estados Unidos, a América Latina continua a ser abandonada à sua pouca sorte pelas chancelarias dos países desenvolvidos. Mesmo o Nuno Amaral que escreve as suas crónicas no Público, me parece de uma parcialidade e de um empirismo surpreendente (e por isso mesmo inaceitável).

Da mesma maneira recebo da forma mais triste, a notícia de que aqueles que me cederam a sua cama em Baya Honda, quando por ali me vi cheio de febre, viram a sua casa, roupas, plantações e animais serem completamente destruídos pelo furacão Gustav.

Dos Estados Unidos vi alguns directos sobre o furacão (daqueles directos que transmitem zero de informação). De Cuba poucas notícias. Já se sabe: Cuba só existe nas notícias quando as notícias são dadas pelos Estados Unidos.

E aqui volto aos poucos blogues que ainda lia. Irrita-me que o mundo se reduza nestes dias a Barack Obama, a Sarah Palin ou a sei lá o quê. Sobre o LHC só li coisas pobres e mal informadas. Portugal, à falta de melhores notícias quase mergulha numa guerra civil, que entretanto já acabou.

Gosto de ler blogues. Acho que se pode aprender muito. E quero continuar a fazê-lo. Muitas das vezes fazem-me pensar - que é uma actividade que em geral me agrada.

Serei básico, mas nos dias que correm, as notícias chegam-me directamente à caixa de email, daqueles em quem confio e por quem tenho apreço.

Vou mudar o aspecto do blogue para um template básico do blogger. Vou retirar as ligações e deixar de lado o embuste do Adsense.

Vou reconstruir aquilo que leio em função dos meus gostos próprios (por nenhuma ordem em particular): ciência, novas tecnologias, política e esquerda europeia, fotografia, cinema, gajas inteligentes e gajos bons (ou vice-versa) e claro as minhas amizades.

Temo por mim próprio: isto parece-se demasiado com um projecto e por isso o mais certo é não dar em nada. Entretanto volto à escola primária dos blogues. Sigam-me.


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| a "minha" cama | baya honda | cuba | 2008 |

quinta-feira, setembro 04, 2008

O que visitar em São Miguel - Açores




Acho que isto que escrevi há uns meses para uma amiga, pode dar jeito:


Quanto a S. Miguel, acho que há muito a visitar. o ideal é que alugues um carro. os carros são bastante caros, mas a verdade é que é mesmo a única maneira de visitar a ilha.

A ilha é muito bonita e fácil de descobrir. A única regra é andar devagar na estrada porque pode aparecer-te uma vaca ao virar da esquina. A sério. :|

Pega num mapa para acompanhares o que te vou dizer:
percurso 1 - zona oeste (a clássica volta ao concelho de Ponta Delgada)
-sair de PD em direcção ao aeroporto. e subir até às sete cidades, pela vista do rei. antes de chegares lá cima visita as lagoas empadadas. são muito bonitas. depois vira para a lagoa do canário e dá um passeio a pé na zona. muito bonito. procura o miradouro sobre as sete cidades. é a vista mais bonita.
-continuar até à vista do rei e descer até às lagoas.
-sair não pelo mesmo caminho mas em direcção aos mosteiros.
-visitar a ferraria (acho que tens que virar para ponta delgada), descendo até lá baixo. é a zona mais recente da ilha. há água quente a nascer no mar e é natural que vejas gente a tomar banho. eu não aconselho, a minha irmã já o fez e diz que se a maré estiver demasiado baixa é fácil alguém queimar-se.
-continuar em direcção aos mosteiros e fazer o percurso até à bretanha.
-almoçar na bretanha num restaurante chamado "cavalo branco". se não encontrares, pergunta, toda a gente conhece.
-visitar o porto das capelas (uma escarpa enorme) e regressar a ponta delgada

percurso 2 (lagoa do fogo e das furnas).
-sair de ponta delgada em direcção à lagoa do Fogo. Subir. Apreciar. Se tiveres tempo, desce lá abaixo. o percurso é difícil e exige cautela e no mínimo 3 horas. é a única lagoa onde ainda se pode tomar banho, se bem que eu não aconselho. :)
-descer em direcção à costa norte e tomar banho nas águas quentes da caldeira velha. obrigatório.
-possibilidade de almoçar na ribeira grande (há vários restaurantes, mas não sei o nome).
-Continuar em direcção às furnas. ver o miradouro do pico da pedra e/ou do salto do cavalo.
-visitar as caldeiras (comer milho cozido e bolos lêvedos) e a lagoa.
-se quiseres comer o cozido em vapor, telefona de véspera para o restaurante Miroma. É cozido à portuguesa e é bom. :)
-visitar a praia da ribeira quente. fixe para tomar banho.
-regressar pela costa sul. visitar vila franca do campo.
-em água de pau, descer até ao Porto da Caloura. é bonitinho e também é um sítio fixe para o banho.
-regressar a ponta delgada.

percurso 3 povoação e nordeste.
-é a zona mais remota da ilha e como não é excepcionalmente bonita pode ficar esquecida. é demorado lá chegar, mas felizmente as estradas são bonitas. Depois da Povoação, visita o Faial da Terra. Aí há um novo percurso a pé até uma aldeia recuperada. Ainda não fui lá.
-se te sentires com coragem mete o carro na estrada de terra da serra da tronqueira. É bonita a vista para o Pico da Vara, mas só se estiver bom tempo.
-depois é fazer o recortado da costa do nordeste até à ribeira grande. é um percurso enorme. mas bonito. :)

praias.
o tempo em S. Miguel é dominado pelas serras. dependendo do vento, olha para o céu e vê onde há nuvens e sol. Se as nuvens estiverem na costa norte, toma banho na praia do pópulo. é um clássico. Se estiverem nuvens a sul, vai de carro até à ribeira grande (são 10 minutos) e logo na primeira rotunda vira para o mar (acho que há placas). A praia é belíssima.
antes de te meteres na água, pergunta por precaução se há "águas vivas". são umas alforrecas pequenas e bastante perigosas. são típicas em agosto.

Ilhéu de vila franca.
Prepara um lanche e mete-te no barco até lá. há barcos de hora a hora e vale a pena passar ali duas ou três horas a tomar banho. é um sítio bonito.

Ponta Delgada.
Cidade pequena e pouco preparada para os turistas. Em duas horas vês aquilo tudo. Agora já tem um shopping. :)

Hoteis não conheço. Óbvio. :)



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| festas do espírito santo | ponta delgada | açores | julho 2007 |

quarta-feira, setembro 03, 2008

Os papéis de Luc.

Ao longo da minha vida, vou guardando pequenos papeis que nunca sei como organizar ou sistematizar. Em geral vou deixando-os pela casa, em diferentes gavetas. Por vezes tropeço com um sorriso nas minhas próprias memórias e constato a sua inutilidade.

Esta tarde deito fora vários papeluchos, onde guardo várias coisas.
O endereço de correio electrónico do Nelson, que com grande simpatia tratou de me ir buscar e levar ao aeroporto.
O endereço electrónico do Félix que me impressionou pela sua cultura, boa disposição e espírito mordaz. E que me recebeu de forma inesquecível em sua casa.
E finalmente um cartão de visita kitsch mas belíssimo. Por cima de uma paisagem de praia tropical, com palmeiras e águas cristalinas, Aidita anuncia: «Se rentam habitaciones con todo o tipo de confort, con aire acondicionado, agua frie y caliente. Telf (53-7) 832 1392». Sigam o meu conselho: é um bom sítio para se ficar em Havana e não é por nada do que é anunciado.

E agora, com algum pesar, tudo isto vai para o ecoponto azul.

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| malecon | havana | cuba | abril 2008 |

terça-feira, setembro 02, 2008

Não, não ando doido.

Começo aqui a escrever a partir de:
-uma pequena provocação de um amigo (daí o título) e
-uma constatação: tenho fotografado cada vez menos.

Primeiro que tudo, sinto-me a mudar. Acho que isso é comum em qualquer idade. No entanto associamos isso a mudanças visíveis e que podem servir facilmente de explicação. Por exemplo: a mudança de escola, a entrada na faculdade, a saída da faculdade, uma nova namorada, a passagem por um país estrangeiro, um novo trabalho, etc... No meu caso, ao contrário do que possa parecer à primeira visto, nada disso. Eppur si muove.

Pela primeira vez embarquei num avião com apenas um rolo de slides na máquina e pilhas numa pequena digital. Nem um único filme a preto e branco. Ainda assim, ao fim de duas semanas, grande parte dos slides foram disparados para acabar o rolo antes do voo de regresso.

E assim se confirma: fotografo pouco. Gostaria de ter fotografado mais. Ou melhor, não fotografei porque fiz outras escolhas e não me arrependo delas, mas gostaria que essas escolhas não condicionassem o facto de não ter fotografado.

E finalmente depois de no fim-de-semana ter passado fugazmente pela zona do S. João no Porto (quem não sabe de que falo, soubesse) senti uma grande distância de parte da minha própria história de vida. E alguma tristeza por verificar que algumas das escolhas recentes que fiz são correctas. É um pouco esquizofrénico, mas é assim mesmo. Não, não ando doido.

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| graciosa, s. jorge e pico | açores | agosto 2008 |