terça-feira, agosto 30, 2005

Para quem não sacraliza o quotidiano.

Figura mítica mas bastante desconhecida da cidade do Porto. Tem um
mestrado numa área científica que não tem grande importância para a
actividade profissional que desempenha. Tem 30 anos e é monogâmico
praticante. Fica com lágrimas nos olhos perante um bom filme ou olhando para imagens dos incêndios florestais. Está a ficar careca.
É fotógrafo amador há alguns anos. Começou a fotografar com uma
Yashica médio formato e fotómetro de mão. Tinha para aí 12 anos. Hoje usa uma das três Pentax analógicas que tem em casa. Todas têm
fotómetro integrado.
Participou em diversas exposições. «Interior» no Jornal Universitário do Porto e na Casa do Careto (Podence), «Novos Activismos» na galeria 4 Gatos (Porto) e «Portugal Hoje» na Casa da Cultura da Moita. Em todas as exposições gastou bastante dinheiro e nunca vendeu uma única fotografia. É daqueles que acredita que o dinheiro não é tudo na vida. Por isso ofereceu com gosto diversas fotos a alguns amigos e amigas.
Podes tentar receber a tua. Vê como em joaoluc.blogspot.com.


| Roménia | 2005 |

domingo, agosto 28, 2005

Estrela e Natasha

Estrela era uma rapariga nova. Enfim, relativamente nova, até porque a juventude extende-se cada vez até mais tarde. Com 22 anos decidiu viajar até à Bulgaria, onde casualmente se encontrou com uma tradutora de alemão para búlgaro. Esta chamava-se Natasha. Conversaram demoradamente sobre os respectivos países. Ao perceberem que partilhavam um interesse comum por fotografia, Estrela explicou-lhe a razão pela qual apenas fotografava a preto e branco.

O mundo é muito curioso a preto e branco. Tudo pode ser dividido com simplicidade entre branco e negro, essa dicotomia mágica, esse extase do Yin e Yang, que no fundo é a redução do planeta à sua essência de bondade ou maldade absoluta. Na verdade Estrela não acreditava em nada disso, mas esta ideia redonda servia para manter a conversa de circunstância com Natasha.

Meses mais tarde, um pouco a despropósito, Estrela recebe no seu telemóvel uma mensagem em que Natasha lhe pedia excepcionalmente 100 euros emprestados. Estrela retomou a sua tese sobre a simplicidade do mundo. Um mundo que se divide entre os que têm juízo e os que não dão passos maiores que as pernas.

Respondeu-lhe:
«the world's b&w. those who have 100e and those who don't. sorry mate.»

:D


| Polónia | 2003 |

sábado, agosto 20, 2005

Duas cidades com o mesmo nome.

Viajo até Lisboa com bastante frequência ao longo de todo o ano. Sinto-me permanentemente em trânsito e com uma vontade permanente de partir. Assim sempre senti a cidade desde que a conheci há mais de 10 anos atrás. Na minha infância Lisboa era uma cidade distante e as grandes viagens (5 horas para percorrer 220kms) não viravam nunca para sul, mas sempre para leste.

Descobri Lisboa aos poucos, não com o sentido das viagens frequentes, mas com as deslocações prepositadas para passear. Almoçar na rua da Palma, lanchar em Belém, comer um gelado no Rossio, jantar no Bairro Alto e acabar a noite num miradouro na Graça.
No dia seguinte pegar no carro para visitar Sintra, a Arrábida ou pura e simplesmente ir ver meia dúzia de exposições idiotas.

Uma das coisas que nunca havia feito, até 2004 foi entrar no Parlamento. Tinha-me habituado a vê-lo do lado de fora. Não é "vê-lo"-"vê-lo". É mais no sentido de me sentir sempre do lado de fora. Nunca tive interesse nos seus participantes, nunca me senti no seu interior, nunca participei na sua composição. Nunca elegi ninguém. Desde 2003 as coisas ficaram um pouco diferentes.

Há no entanto uma sensação que surge de cá de dentro como a de um formigueiro nos braços; a sensação de que todos os passos no Parlamento são passos perdidos.


| André | Parlamento | Lisboa | Junho 2004 |

segunda-feira, agosto 15, 2005

Existir

Existir é uma sequência de decisões disconexas. Em geral passamos grande parte do tempo a acreditar que assim não é.

| The Maria Leonor Project | Amarante | Junho 2005 |

Não é preciso mentir.

Ao vivo, esta paisagem não tinha o mínimo interesse.


| Roménia | Abril 2005 |

sábado, agosto 06, 2005

Esta sensação de impotência absoluta.

Começo a ficar um pouco farto de ouvir falar em vítimas de terramotos, maremotos, cheias e vulcões quando ... pá, fogo, que caraças!


| O Sofa do Ricardo | Madeira | Março 2005 |

2 horas e 20 minutos de atraso. Circulamos em marcha à vista.

Ouço há anos um discurso um pouco redondo e vagamente demagógico anunciando entre a vida do país e as questões centrais do debate político nacional. São coisas que se ouvem com a indiferença de qualquer outro cliché. É normal. Em política e sobre política clichés há ao peso.

É óbvio que há sectores marginais que apontam erros aos grandes investimentos públicos feitos pelo país nos últimos anos. Expo 98, Euro 2004 e, em menor escala, os submarinos ao serviço da NATO e o Porto 2001. A verdade é que no diz respeito ao dia-a-dia das pessoas, os incêndios estivais (esqueçamos as mortes nas estradas) são um dos problemas centrais da gestão do país. E sobre estas questões todos assobiam para o lado. A política trata outras coisas.

Veja-se o caso das próximas eleições autárquicas. Os incêndios e sobretudo a sua prevenção passarão ao lado das discussões sobre rotundas, parques de estacionamento e recuperações urbanas de fachada.

Há sítios no país em que no dia 5 de Agosto de 2005 a noite caiu bem antes do sol se pôr. Para isso não é preciso sequer olhar para o céu. Basta olhar para os olhos de quem está ao lado.


| Laurent | Maio de 2005 |