Não estamos em Fevereiro de 1979, nem me apetece escrever um texto de um jorro só. Não me faltam dentes. Tenho 37 anos.
Há quem atire culpas para os de trás, há quem atire culpas para os da frente. Há quem ouça música. Há quem ache que se pode marcar uma linha arbitrária num calendário a partir da qual (apenas a partir da qual) vale a pena manifestar-se.
Os funcionários públicos e os reformados foram os bombos da festa. Mas como o dinheiro deles não chegou, a rave estendeu-se noite fora até aos cínicos que a observavam de longe. E estes, coitadinhos acordaram agora, cheios de vernáculo.
Mas no meio desta história custa ver que ainda não se percebeu nada. A única saída está numa redefinição política do panorama político português e numa recomposição institucional europeia, longe da lógica monetarista vigente e dos tratados que nos trouxeram até aqui.
A expedição punitiva que se dirigiu a Portugal ainda só se está a instalar. Mas se a querem receber convenientemente, isso implica deixar o vernáculo e começar a usar o cérebro.
Pode ir-se à praia em dia de eleições? Pode. Pode fazer-se de sonso quando há uma greve geral? Pode. Pode chamar-se preguiçosos aos professores? Pode. Pode discutir-se os direitos sociais dos outros como se de privilégios se tratassem? Pode. Pode passar-se a vida a votar no PS e no PSD? Pode. Pode achar-se que quem se indigna são uns radicais perigosos ou uns achados arqueológicos? Pode. Pode passar-se a vida sem ler um livro ou sequer um jornal? Pode. Pode andar-se a vida toda a fugir aos impostos e exigir que os outros os paguem? Pode. Pode seguir-se sempre a mais cretina lógica individualista? Pode. Pode nunca se sindicalizar e depois recorrer aos sindicatos quando as questões laborais roçam a escravatura? Pode. Pode o dinheiro definir tudo nas nossas vidas? Talvez não possa.
Mas depois não me fodam com o vosso vernáculo, bando de palonços.
Amanhã vamos todos à manifestação. Mas saibam que aquilo que fazem tem consequências. Tal como aquilo que não fazem. E se outra consequência não haja que pelo menos tenha a consequência de vos fazer consequentes.
Ou dito de maneira que se perceba: se querem que o país mude amanhã, são vocês que têm que mudar. É que visto daqui, o país são vocês.
Até me fazem falar mal.
| a puta da florzinha | gerês | março 2012 |