terça-feira, janeiro 25, 2005

Caro senhor

Desculpe senhor o facto de na verdade não me ver como um assassino. Assassino no sentido daquele que mata. Desculpe senhor. Nem percebo porque razão, senhor, aquele que apoia tropas para invadir um país em paz com o mundo não é olhado como um assassino. Matar, para mim, sempre foi aquilo que se faz com pistolas, canhões e coisas que tais. Admito que possa estar enganado, senhor.

Bem sei que o senhor tem contactos directos com Nossa Senhora de Fátima e será ela quem, com transcendental sabedoria, lhe aponta o trilho da vida, da humanidade e dos homens bons. Desculpe senhor. Tem toda a razão. Pode nunca ter ido à tropa mas pode brincar às guerras e aos submarinos. Brincar faz bem. É saudável. É um direito dos cidadãos.

Pode ser-se homossexual, declamar-se odes à Santa Madre Igreja e venerar-se de forma rastejante a família patriarcal. Pode sim senhor. Brincar com a pilinha faz bem. É um direito dos cidadãos, ainda que o senhor não o reconheça. Pode ser-se uma respeitável figura pública e ser-se um valente filho-da-puta. É verdade sim senhor. A vida em sociedade é feita destas hipocrisias que todos reconhecem mas que ninguém assume.

Desculpe por isso senhor, nunca foi minha intenção chamá-lo à atenção pela forma insultuosa como me trata. Creio ser um direito que lhe assiste a si. Mas não a mim, como é bom de ver.


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