sábado, setembro 17, 2005

Amigão

Uma das coisas mais curiosas na fotografia é a capacidade que tem de nos fazer viagens na nossa própria vida. Imagino a entrada de um inspector da judiciária em minha própria casa. Que fazia eu em Fevereiro de 2002? Uma criança havia sido espancada em frente ao pequeno apartamento que alugava à época. Aguarde dois minutos sr. inspector. E sai uma caixa de slides com imagens nocturnas da cidade do Porto.

Explico-lhe... nesta altura estava no Fotopt. Era uma merda bem sei, mas olhe, era o que havia. Já imaginou o que seria o mundo se houvesse um site com o nível de grotesco do 1000i, a inocência serôdia do olhares e o sentido de subversão do Fotoalt? Bom, isso era um pouco o Fotopt. Uma boa merda da qual todos continuam a falar. Inclusivé eu próprio.

O inspector sairia de lá de casa com as mãos a abanar. Nessa longínqua noite tanto poderia ter estado a fotografar o túnel de Faria Guimarães, como a encher a roupa com tabaco numa festa qualquer ou a masturbar-me fantasiando com a minha própria gaja. Este último aspecto talvez fosse omitido ao representante da autoridade do Estado. :)

A vida vive-se. No presente. Não no passado, nem no futuro.Ora, depois desta consideração, só me apetece dizer «puta que pariu os clichés».

Este tipo de discussão subtil faz-me lembrar conversas sobretudo com outros militantes da esquerda, no tempo da universidade. Lembro-me de perceber, praticamente sem racionalizar, que a legitimidade da sua acção se encontrava num velho regime desaparecido há décadas ou numa crença insofismável num futuro idealizado por outrem. Devo-lhes um agradecimento. Não sou gajo de crenças e dispenso o papel de missionário. Ter valores é uma coisa um pouco diferente. Obrigado.

Podia aqui fazer um paralelo com a fotografia. Creio ser supérfluo. Pode-se procurar nas entrelinhas. Talvez encontrem coisas que não escrevi e outras que nem quis dizer. O essencial creio que está lá.

Não me volto a dispersar. Aliás termino já a seguir.

Há coisas que só nos lembramos olhando para velhos slides de 2001. Do Fotoalt não preciso de me lembrar, faz parte da vida. Da tal que se vive no presente.


| Túnel de Faria Guimarães | Porto | Fevereiro 2002 |

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