quinta-feira, outubro 27, 2005

O fedor.

Subtítulos possíveis
Bipolarização | Joana Amaral Dias e Kátia Guerreiro | Blindagem ao centro | ò patego, olha o balão | PS e PSD | Somos todos uns gajos muito fixes |


Compreendo agora onde queres chegar e diria apenas que todo o teu argumento se baseia numa ideia singularmente simples. Essa ideia -a do mal menor - aplica-se a muito da nossa vida quotidiana e é até um princípio de consenso social bastante difundido.


«Mais vale um empreguinho [precário, fodido e mal pago] do que o desemprego»
ou numa versão mais eloquente:
«Não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir (...)»


Ora essa história do mais vale estrume que merda tem feito do nosso país uma coisa bastante mal-cheirosa.


| The Maria Leonor Project | 18 de Outubro de 2005 |

sexta-feira, outubro 21, 2005

Principios Simples IV

São pequenos principios que determinam grandes coisas em sociedade. Eu por exemplo nunca votaria num candidato a presidente da república que faça uso da gravata. Falo de machos apenas, como é óbvio - o que infelizmente é o que nos resta.


| The Maria Leonor Project | 18 de Outubro de 2005 |

quinta-feira, outubro 20, 2005

Principios simples III

O preço de mercado é irrelevante em muitos aspectos da vida.

Um exemplo simples.
Em termos de importância o negativo (melhor dizendo, a fotografia) é o mais importante no acto de fotografar. A lente, a máquina e outras paneleirices são meros instrumentos, ainda que o seu valor de mercado seja superior aos milhões de reles negativos (ou fotografias) criadas permanentemente.


| O Eclipse | Rua Passos Manuel | Porto | Outubro de 2005 |

segunda-feira, outubro 03, 2005

Joana é uma gaja moderna.

Joana é uma gaja moderna. Filha de boas famílias, decidiu parir cedo. Gosto de imaginar que sim. Que isso foi resultado de uma decisão. Joana é além de moderna, uma gaja bonita.

Serafim Saudade explica: «As pessoas dividem-se em dois tipos: as do tipo A e as do tipo B. Por sua vez as pessoas do tipo B dividem-se em dois tipos.»

Joana é uma gaja do tipo B. Dentro desse grupo é das que não tem que se preocupar grandemente com a chegada do fim do mês e com os centavos sossobrantes ou como é comum noutras pessoas do tipo B, com os centavos em falta.

Joana tinha outro tipo de preocupações mais generosas do que estas questões mesquinhas de materialidade quotidiana.

Joana gostava de estudar, ampliar horizontes, perceber o mundo em que vivia e as pessoas que o povoavam. Estudar é bom. Eu sei que sim porque já estudei. Estudar no estrangeiro também é bom. Eu sei que sim porque também já estudei no estrangeiro.

Joana gostava de falar e discutir. Falar e discutir é bom. Eu sei que sim porque também gosto de falar e discutir.

Joana começou um dia a fazer política institucional. Nunca tinha feito aquelas coisas chatas de colar cartazes ou escrever panfletos para os distribuir. Eu sei que essas coisas são chatas porque também já as fiz. Mas para fazer política moderna é melhor que não seja uma coisa chata. Obviamente.

Miguel era um kota moderno. Mas a história dele não cabe aqui. Talvez por um pouco de pudor.

Mário não é bem um kota, é mais um velho elefante. A história dele será contada e recontada. Por isso também não cabe aqui.

Modernidade também se escreve com «M». Ele há coisas do caraças.


| Sura Mica | Roménia | 2005 |