Tradução minha.
Música: Mercedes Sosa
Soy Pan, Soy Paz, ... |
«Querido A.
Esta viagem foi muito forte para mim. Foram 20 dias muito intensos.
A minha mãe não sabia que chegava. Quando chegamos ela dormia. Mandei a "mucama" (argentinismo - antes dizia-se "muchaca con cama"="criada", por isso os argentinos misturaram as duas palavras abreviadas e ficou "mucama") dizer-lhe que o pequeno-almoço estava pronto. A minha mãe disse-lhe que queria continuar a dormir.
A Maria saiu do quarto e disse-me: "Agora não sei que fazer! Ela quer continuar a dormir!"
Entrei no quarto dela e disse-lhe: "vamos velha hinchapelotas, levanta-te que estou morto de fome!!!!" Recebi um dos abraços com mais gana da minha vida.
A mucama ficou séria já que nunca tinha ouvido que alguém falasse à senhora M. com tanta falta de respeito.
Buenos Aires estava linda, quase majestosa, como quando a deixei.
Os amigos continuam sendo de ferro e os amores incondicionais.
Os amores!!! Coisa muito forte que contrasta com este norte tímido.
Uma das coisas que mais me custou deixar ali, são os papéis que cá não posso ter. Aqui não posso ser nem filho, nem irmão mais velho, nem tio, nem local.
Comi com montões de amigos, falei com a minha irmã quase todas as noites até às cinco da manhã, desfrutei dos meus sobrinhos.
Vi o meu pai que há muitos anos não via. Discuti com ele sobre tango. Ele gosta de Gardel e para mim é uma cagada. Comecei eu a discussão para ver se mantinha intacto o seu poder para argumentar e gostei que fosse ainda hábil a discutir.
Dormi com um par de amigas do passado. Desfruto um pouco mais da infidelidade quando estou em Buenos Aires, porque são esses os amores que duraram toda a vida. Têm sempre a mesma intensidade e a mesma gana, apesar dos anos.
Nesta viagem não pude fotografar. A máquina foi o meu corpo.
Ab+
Daniel »
| Fotografia de Daniel Navarro |
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