Há poucas coisas capazes de mobilizar massivamente um país. Historicamente esses momentos representam grandes saltos. Pontos de ruptura numa continuidade inerte. Será talvez necessário reformular a teoria. Empiricamente 2004 assim obriga.
Este ano que vivemos tem por isso muito interesse. Perdeu-se poder de compra, temos o IVA mais alto das redondezas, os hospitais estão a meio caminho da privatização, as universidades a tinir, escolas sem professores. As matas já não ardem porque já arderam. No entanto este foi um ano de grandes festejos. Unânimes, massivos, apaixonados e ubíquos. Os portugueses encontraram-se nas ruas a festejar tudo aquilo que não tinham.
Três meses depois o ministro das finanças explica em tom solene num directo televisivo aquilo que já todos perceberam: o orçamento de estado é como os orçamentos domésticos; gasta-se mais do que o que se tem e por isso há que cortar nas despesas supérfluas. P.ex. em casa cortar na mesada das crianças para se poder continuar a ter televisão por cabo. O que conta são as aparências. Bons carros, belos estádios, grandes centros comerciais e os desempregados fora dos bairros sociais. Desempregados? Que desempregados?
Há sol, boa comida e bandeiras à janela. Isso sim.
:)
| Covas | V.N. de Cerveira | Agosto 2004 |
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