terça-feira, setembro 28, 2004

Aos saltos para trás.

Há poucas coisas capazes de mobilizar massivamente um país. Historicamente esses momentos representam grandes saltos. Pontos de ruptura numa continuidade inerte. Será talvez necessário reformular a teoria. Empiricamente 2004 assim obriga.

Este ano que vivemos tem por isso muito interesse. Perdeu-se poder de compra, temos o IVA mais alto das redondezas, os hospitais estão a meio caminho da privatização, as universidades a tinir, escolas sem professores. As matas já não ardem porque já arderam. No entanto este foi um ano de grandes festejos. Unânimes, massivos, apaixonados e ubíquos. Os portugueses encontraram-se nas ruas a festejar tudo aquilo que não tinham.

Três meses depois o ministro das finanças explica em tom solene num directo televisivo aquilo que já todos perceberam: o orçamento de estado é como os orçamentos domésticos; gasta-se mais do que o que se tem e por isso há que cortar nas despesas supérfluas. P.ex. em casa cortar na mesada das crianças para se poder continuar a ter televisão por cabo. O que conta são as aparências. Bons carros, belos estádios, grandes centros comerciais e os desempregados fora dos bairros sociais. Desempregados? Que desempregados?

Há sol, boa comida e bandeiras à janela. Isso sim.
:)


| Covas | V.N. de Cerveira | Agosto 2004 |

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