No final do séc. XV, ainda no início do processo de dominação colonial do hemisfério sul, os arquipélagos ibéricos do atlântico mantinham uma importância estratégica para as rotas marítimas que passariam a assegurar a ligação com os recém-colonizados territórios africanos e americanos. As pequenas ilhas garantiam abrigo e mantimentos aos navios que faziam o triângulo escravos – ouro, prata e açúcar – metrópole. Evidentemente nada disto garantia o desenvolvimento dessas ilhas - tão pouco dos reinos católicos como se confirmaria tempos mais tarde.
Numa curiosa coincidência, no início do séc. XXI, naquilo que é o início de uma nova dominação colonial do planeta, o pequeno arquipélago dos Açores foi bafejado pelo acaso de acolher os mais poderosos líderes mundiais. Um par de idiotas anglófonos. Da península (das antigas potências mundiais) vinha um terceiro convidado e um sorridente anfitrião. Um par de palonsos esforçando-se por aparecer na fotografia. De novo as longínquas ilhas davam segurança e poder. Não como protecção dos elementos ou das enormes distâncias atlânticas. Os quatro engravatados apenas se escondiam dos seus concidadãos.
Evidentemente nada disto garante o desenvolvimento dessas ilhas. Ali ao lado, na freguesia de Rabo de Peixe, a mais pobre freguesia portuguesa e certamente uma das mais pobres da Europa “civilizada” a vida continua normalmente. Sem grandes diferenças daquela que seria a vida no final do séc. XV. Relembrar o velho provérbio marxista - «um povo que oprime outro, não é um povo livre» - pouco conforto dará a iraquianos ou a açoreanos. Aliás porquê falar em tudo isto? Saberão os pescadores açoreanos onde é a Babilónia? Saberão os famintos de Bagdade onde é a ilha Terceira?
As ilhas são apesar de tudo um bom sítio para se viver. Há sol, bom peixe e bandeiras à janela.
De longe a longe lá aparecem câmaras de televisão com ligações satélite.
| Os putos de Rabo de Peixe | S. Miguel | Açores | Junho de 2003 |
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