quarta-feira, agosto 01, 2012

Duas coisinhas de nada.

Pondo o pé fora da porta, saindo de casa com o sol quente da manhã, eis que as primeiras palavras que ouço são: “então D. Adelaide [o nome é fictício para proteger os intervenientes], já estreou o seu bidé?”. De soslaio, por entre a nesga deixada pelos óculos de sol e o lado esquerdo da cara, observo a D. Adelaide [o nome é fictício para proteger os intervenientes, já disse isto, não já?] e invade-me o cérebro aquela imagem belíssima da D. Adelaide estreando o seu bidé [só o nome é fictício, o bidé deve ser real]. O picheleiro lá da esquina vai zelando com simpatia pelo bem-estar do quarteirão. Se bem que lá em casa o silicone do poliban tenha ficado bastante merdoso – e isto não é ficção.

Matematicamente um anúncio deve ser exacto. Por exemplo: se alguém muda de linha na estação da Trindade, pode apenas mudar para uma linha. O quê? É isso mesmo. Se saio da linha A, só posso mudar para a linha B. Ou para a linha C. Ou para a linha D. Mas nunca para a linha B, C e D. Não posso mudar simultaneamente para três linhas. E então surpreende-me a exactidão com que a voz anuncia em inglês, com aquele sotaque tipicamente português (sotaque? que sotaque? perguntar-me-ão todos os que ouvirem aquele anúncio em inglês perfeito mas com aquele sotaque tipicamente português): “connection with lines A, B, C, E or F”. “Or?”, pergunto-me. Não seria “and?”, pergunto-me. E com orgulho penso que a língua foi usada de forma matematicamente correcta.

Turistas, vinde acordar cedo. Não vos deixeis açoitar com queimaduras solares. Admirai a bela nação na bancarrota. E se virem portugueses a conversar de manhã bem cedo, ao sol da manhã, já saberão que discutirão bidés ou mapas de karnaugh. Um ou outro irá com a cabeça tomada por disparates.

| a puta da florzinha | gerês | março de 2012 |

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