sexta-feira, agosto 03, 2012

Ficção sobre 2012

Corre o ano de 2012. É um ano longínquo. Tão longínquo que nos podemos atrever a imaginar coisas excepcionais. Coisas muito mais excepcionais do que cuidados de saúde públicos de qualidade. Ou transportes públicos a preços simbólicos. Ou ensino universitário gratuito. Ou o fim do bacalhau mal demolhado nas cantinas.

É um ano excepcional. Há carros que flutuam nas ruas. Ou melhor dito, por cima delas. No código da estrada foi introduzida a prioridade aos veículos que se apresentem em descendente, tal como há prioridade aos veículos que se apresentem pela direita. Excepto os comboios que têm prioridade também quando vêm pela esquerda. E os caças bombardeiros que têm prioridade mesmo quando se apresentem em ascendente.

O rio Douro foi finalmente despoluído, a praia de Matosinhos deixou de ser conhecida como a praia do cagalhão. As pessoas podem ver a cara uma das outras enquanto falam ao telemóvel.

O acesso à informação está de tal forma disseminado que é o ano em que, pela primeira vez e em virtude do desenvolvimento tecnológico, os cursos universitários podem ser feitos em apenas um ano. E as pessoas misteriosamente sussurram nas ruas: "Vai estudar Relvas". E já ninguém sabe quem é o Dantas e se ele morreu ou não.

A sardinha é agostinha o ano todo. A nortada só aparece quando não está gente na praia e até a emissão da televisão pode ser parada para se ir aliviar águas num saltinho.

Ah quem me dera poder viver em 2012. Ou noutro ano qualquer no futuro. Cabrões de vindouros.

| aos saltos bem altos | ribeira | porto | junho 2012 |

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