quarta-feira, maio 10, 2006

Chanatos molhados, espuma no cabelo e areia entre os dedos.

Era muito raro encontrarem-se naquelas circunstâncias típicas de um filme. De mãos dadas num pôr do sol em frente ao mar... A praia, quando eles tinham doze anos, estava cheia de sargaço que se podia percorrer com as mãos à procura dos beijinhos que se comeriam ao fim da tarde - depois de passarem pela panela. Mudou muito o mar. Mudou muito a praia. Nada que se possa explicar de forma metódica. É um sentimento, um formigueiro que leva rapidamente alguém a banalizar-se pensando: «no meu tempo é que era...»

São frágeis as praias em frente ao mar. Mas ainda assim - disse-lhe ela - penso com os meus botões, que em todas as gerações têm mérito aqueles que arriscam molhar os pés e se dispõem a enfrentar o mar. Claro que haverá sempre quem se ponha na posição confortável de alguém que no final de tudo poderá exclamar triunfante: «vejam como são patéticos: estão todos molhados».

A questão não é o mar. É a praia.
A questão não é o pôr-do-sol. É todo o dia e toda a noite.
A questão não é triunfar. É molhar os pés.
A questão não é enfrentar uma maré. É acabar com o aquecimento global.


| Cravos de Abril em Maio | Porto | Maio de 2006 |

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