sexta-feira, setembro 01, 2006

2001

No que diz respeito à cidade do Porto, Kubrick falhou descaradamente a sua proto-profecia sobre 2001. A culpa não se deve sequer a ele mas ao super-computador Hal-9000 que as direcções do PS e do PSD partilham entre si de cada vez que ocupam a câmara da cidade do Porto.

Depois da rodagem do filme, o bicho foi considerado ultrapassado sobretudo para as necessidades ficcionais de Hollywood. Foi guardado num armazém qualquer de LA até ao final dos anos 70 e, como acontece sempre nestas coisas, lá foi despachado a preços de saldo para o terceiro-mundo. A história deve ser muito obscura e quase de certeza que envolve o acordo de utilização da base das Lajes. Agora que o Independente fechou, terminaram as nossas hipóteses de ver a verdade revelada sobre a forma como o computador chegou até à cidade do Porto.

Mas os sintomas são óbvios. Num país macrocéfalo, onde qualquer aprendiz de pedreiro que queira chegar a capataz tem que necessariamente migrar para Lisboa, também os Srs. do PSD e do PS - tanta ambição que têm de chegarem a capatazes - se vêem forçados a correr para a capital.

No seu lugar, para ir dando conta de uns recados, deixaram o Hal-9000 que vai saltando da Rua Guerra Junqueiro para a Rua Stª Isabel de cada vez que os dois partidos alternam na presidência da Câmara. Para quem viu o clássico do Kubrick já adivinha a continuação da história. O Hal9000 é um ser caprichoso, dotado de muita esperteza e incapaz de assumir quando se engana.

O Hal é só um computador. Os computadores tradicionais interagem através de periféricos como o teclado, o rato, o monitor... O Hal interage através de interfaces como Fernando Gomes, Nuno Cardoso, Orlando Gaspar, Rui Rio, Valentim Loureiro. Os computadores como Hal, devido à idade do seu sistema operativo, estão mais sujeitos a vírus por isso é natural que se consigam vislumbrar sintomas do Hal até em periféricos como Álvaro Castelo Branco, Rui Sá ou João Teixeira Lopes.

A verdade é que chegados a 2006 o Hal consegue ainda enganar toda a gente. Apesar da forma como foram desqualificados os espaços públicos da Cordoaria à Batalha (passando pois claro pelos Aliados), pelos abusos generalizados do Metro do Porto, pelo encerramento do Rivoli, pelo tratamento abaixo de cão a que é reduzida habitualmente a inteligência dos habitantes da cidade, ainda há quem pense que a culpa de tudo isto é dos políticos.

Parece que já ouço na sombra o José Mário Branco a rosnar cínicamente «a culpa é dos políticos» mas não, não é disso que se trata... Um taxista (aqui, quando se fala do "povo", convém referir um personagem que todos possam identificar facilmente - é uma questão de estilo, note-se) dizia-me há dias:
-A culpa disto é dos políticos!
-Não é não - respondi naturalmente.
-Não é? - aqui a indignação do tom de voz começou a subir como se se estivesse a discutir a própria honra do sr. Jorge Nuno Pinto da Costa (coisa imaculada, como se sabe).
-Não, não é. - sorri (sorrio sempre)
-Intão de quénhéquié?
Hesitei muito em falar-lhe do Hal9000 por isso respondi evasivamente:
-A culpa é de quem neles vota.


| Casa da Música | Porto | Junho de 2006 |

2 comentários:

Unknown disse...

mai nada!
agora so falta mudar quem neles deita!

abraço

Manel disse...

Ora nem mais... mas custa-nos muito entender o óbvio quando o óbvio nos obriga à auto-reflexão. Dá muito trabalho e esta vida já é uma canseira, graças aos políticos que nós elegemos para nos f*lixarem a vida, de modos que ficamos neste estado amibal [e não animal], paralizados pela vida difícil que temos por nossa irra!sponsabilidade. Mas será que isto algum dia terá fim? A estupidez, quero dizer...


[suspiro... bem português, ai]