quinta-feira, setembro 21, 2006

Viajar.

Um dos interesses de uma viagem é necessariamente o contacto com outras vidas. Perceber como é viver de outra maneira é algo até de onírico.

Ver como os cubanos não sabem o que é um casaco, que em Toronto jantam sempre antes das sete da tarde, que em França é preciso sair para outra divisória para se conseguir lavar as mãos depois de fazer "aquilo", que em Itália os passeios são partilhados entre motorizadas e peões, que em Espanha se fala lindamente pelos cotovelos sem se dizer nada, que em Lisboa ninguém chega ao emprego antes das dez e não se começa a trabalhar senão às dez e meia depois do cafézinho da ordem...

Tudo isto são clichés e preconceitos. Mas isso é também o que nos ajuda a dar um mínimo de sentido empírico ao que nos rodeia. Nas viagens, serve para nos podermos rir no regresso, contando histórias aos amigos ou recordação futura de coisas fúteis que nos deram prazer quando ainda tínhamos a paciência para apreciar os defeitos dos outros.

Numa viagem é portanto preciso arranjar um autóctone. Esse bicho pode ser conhecido ao acaso mas com as maravilhas dessa coisa chamada internet até pode ser contactado previamente. Eu imagino-me a desenhar o perfil dessa pessoa. Alguém inteligente, equilibrado, com espírito crítico e com alguns interesses coincidentes com os meus.

De cada vez que me lembro de uma moça que nos acompanhou numa viagem pelos Cárpatos não posso deixar de chegar sempre à mesma conclusão: as viagens servem para aprender e por isso mesmo para riscar de vez os perfis de quem vamos encontrar. É isso a descoberta...

A propósito, eu também sou autóctone de um sítio qualquer - a quem quer que isso interesse.


| Metro do Porto | Estação Casa da Música | Porto | Fevereiro de 2006 |

Sem comentários: