terça-feira, outubro 10, 2006

Problemas de indexação linguística em motores de pesquisa :|

Aquela forma de falar da Sé era inconfundível e ouvia-o repetir com voz rouca conversas intermináveis cheias de expressões como: "desbaziar o lixo"; "tótil pessoal"; "afiambrar-me à gaja"; "não m'acredito"; "o géco parecia uma obeilha"; "o artolas era um grande pastor", "dei-lhe um biqueiro"; "oh p'as! é côro..."; "o moina deu de frosques" e evidentemente as frases acabavam sempre com um grande "que carago, fuogo, tás a ber a ideia?"

O divertido da questão era que o outro tipo, com aquele sotaque suave típico da cidade de Ponta Delgada, respondia divertido: "esse rapá nã é descréto"; "que corisco zabela"; "isse aí tá d'ardê..."; "tã riquinhe"; "fogo t'abraze"; "eu vou-te sofrê?".

A conversa não era bem uma conversa de surdos mas o problema maior era mesmo o da compreensão mútua. Enfim, ao fim do terceiro licor de maracujá do Ezequiel, aviado a meias com o licor de medronho da Micas lá de cima, não era tanto o conteúdo que importava. Um dia de manhã - o pormenor da manhã é fundamental - pensaram que talvez fosse altura de deslocarem a sua forma de expressão para um terreno comum. Puseram-se a falar em brasileiro de novela um com outro. A grande vantagem é que já não precisavam de se enfrascar para rirem como uns perdidos.


| PJV & SV | Porto | Novembro de 2005 |

2 comentários:

Manel disse...

As diferenças podem servir para isso mesmo, para ligar. E para embalar a alma com o balanço da vida que é muitas vidas. Basta apenas que as mentes sejam menos cerradas do que o falar. O resto acontece por si. :)


Deixaste-me com saudades da Rua da Alegria, que carago, fuogo!...

teresa sá disse...

nao conhecia este blog. foi uma bonita descoberta