[continuação do chá com bolo]
Acho que podemos admirar as pessoas pelas mais variadas razões. O Nachtwey é admirável por isso mesmo. Pelas mais variadas razões. A fotografia acaba por ser quase marginal na admiração que tenho por ele.
Seria óbvio fazer comparações a outros fotógrafos de guerra - lembro-me muito do Capa - mas fico sempre com a sensação que neste caso a comparação é fraca e perde-se naquilo que são cada uma das personalidades.
O Capa era um bon vivant, mulherengo e basicamente doido bastante para ter desembarcado desarmado na Normandia com as tropas americanas. Não morreu aí e, apesar de ter fotografado, não há praticamente nada para mostrar - excepto uns negativos todos quilhados. Que outro homem teria virado as costas a Ingrid Bergman para ir fotografar guerras?
Nunca ouvi falar o Capa, mas imagino-o nos antípodas daquilo que é o discurso incisivo, calmo e supreendentemente radical do Nachtwey. As fotografias, com as devidas distâncias são muito diferentes, mas sendo mais fácil fotografar hoje do que em 1936, não há dúvida que a fotografia não tem a importância que tinha nessa altura. E essa dificuldade não é desprezável.
[ah a televisão, a televisão...]
Que relevo tem hoje um fotógrafo de guerra, quando as televisões preferem os videos feitos com telemóveis? Os directos são permanentes mas sem qualquer informação e as notícias dadas sem qualquer enquadramento, contextualização ou investigação. O jornalista não se envolve, não estuda, não se dedica - apenas traduz para português e debita o que tem que debitar.
Uma notícia dura uns minutos. Como pode uma fotografia durar mais que isso?
Depois empresto-vos o video, mas entretanto fiquem com um cheirinho como introdução. E claro, mais ainda está para vir... É manter o homem debaixo de olho.
[beijinhos e bom regresso lá para a terra dos caramelos]
| Posada de Valdeon | Picos de Europa | Julho 2005 |
7 comentários:
Xiça...que foto! :)
ainda ontem conversava com um nosso muito conhecido dos arredores de vila do conde sobre o suporte filme que cada vez mais os fotojornalistas usam como complemento ou substituição da película ou do digital. claro que dali nao saiu nenhuma conclusao...
e a miséria humana é capaz de tanta sedução estética...acho eu.
:)
A televisão banalizou o horror.
Daí a indiferença generalizada.
Este tipo - até a voz dele impressiona - devolve-nos o horror em salva de prata.
Obrigado e boa semana ...
a cena do pai Indonésio a tratar dos filhos é de uma violência atroz... mas ao mesmo tempo de uma ternura arrebatadora.
Dom
estou como tu, à espera do que daí virá... :-)
Também se admiram certas pessoas pelas pessoas que essas pessoas admiram.
Fantástica luz e local.
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