quarta-feira, maio 02, 2007

James Nachtwey

[continuação do chá com bolo]

Acho que podemos admirar as pessoas pelas mais variadas razões. O Nachtwey é admirável por isso mesmo. Pelas mais variadas razões. A fotografia acaba por ser quase marginal na admiração que tenho por ele.

Seria óbvio fazer comparações a outros fotógrafos de guerra - lembro-me muito do Capa - mas fico sempre com a sensação que neste caso a comparação é fraca e perde-se naquilo que são cada uma das personalidades.

O Capa era um bon vivant, mulherengo e basicamente doido bastante para ter desembarcado desarmado na Normandia com as tropas americanas. Não morreu aí e, apesar de ter fotografado, não há praticamente nada para mostrar - excepto uns negativos todos quilhados. Que outro homem teria virado as costas a Ingrid Bergman para ir fotografar guerras?

Nunca ouvi falar o Capa, mas imagino-o nos antípodas daquilo que é o discurso incisivo, calmo e supreendentemente radical do Nachtwey. As fotografias, com as devidas distâncias são muito diferentes, mas sendo mais fácil fotografar hoje do que em 1936, não há dúvida que a fotografia não tem a importância que tinha nessa altura. E essa dificuldade não é desprezável.

[ah a televisão, a televisão...]

Que relevo tem hoje um fotógrafo de guerra, quando as televisões preferem os videos feitos com telemóveis? Os directos são permanentes mas sem qualquer informação e as notícias dadas sem qualquer enquadramento, contextualização ou investigação. O jornalista não se envolve, não estuda, não se dedica - apenas traduz para português e debita o que tem que debitar.

Uma notícia dura uns minutos. Como pode uma fotografia durar mais que isso?

Depois empresto-vos o video, mas entretanto fiquem com um cheirinho como introdução. E claro, mais ainda está para vir... É manter o homem debaixo de olho.

[beijinhos e bom regresso lá para a terra dos caramelos]

topo de uma montanha, envolto em nuvens, nos picos da europa
| Posada de Valdeon | Picos de Europa | Julho 2005 |

7 comentários:

Luis Duarte disse...

Xiça...que foto! :)

Armindo de Jesus disse...

ainda ontem conversava com um nosso muito conhecido dos arredores de vila do conde sobre o suporte filme que cada vez mais os fotojornalistas usam como complemento ou substituição da película ou do digital. claro que dali nao saiu nenhuma conclusao...

e a miséria humana é capaz de tanta sedução estética...acho eu.
:)

Elsa Castelo disse...

A televisão banalizou o horror.
Daí a indiferença generalizada.

Este tipo - até a voz dele impressiona - devolve-nos o horror em salva de prata.

Obrigado e boa semana ...

ulisses disse...

a cena do pai Indonésio a tratar dos filhos é de uma violência atroz... mas ao mesmo tempo de uma ternura arrebatadora.

Dom

luis disse...

estou como tu, à espera do que daí virá... :-)

leandro ribeiro disse...

Também se admiram certas pessoas pelas pessoas que essas pessoas admiram.

Cândido Almeida disse...

Fantástica luz e local.