segunda-feira, fevereiro 06, 2012

O pulôver que trazia um homem para o trabalho.

Tinha reparado inicialmente na sua barba mal feita. Não era sequer uma barba, era apenas aquele desleixo de 4 dias. Evito fazer juízos de valor com quem comigo se cruza, mas não pude evitar pensar que com aquela idade, com aquela barriga e com aquela fronha tão feia, um ar tão desleixado fazia do figurão um triste traste.

Certo dia, sentado ao meu lado, pude observar que pequenos detritos se acumulavam na sua face. Evidentemente não tinha lavado as ventas de manhã. Ora eu, portuguezinho e asseadinho, apesar de evitar fazer juízos de valor com quem comigo se cruza, não pude deixar de pensar na raça suína e no seu modo de vida.

Até que há umas semanas percebi que o homem trazia em dias consecutivos o mesmo pulôver. Mas eis que o pulôver o acompanhava permanentemente. Dias depois, fins de semana passados, o mesmo pulôver, sempre o mesmo. Reconheciam-se pequenas manchas, vestígios de comida e alguns cabelos brancos.

Até que pude então perceber que não era o velho figurão que se fazia acompanhar do pulôver, mas o contrário.

Mas como era um pulôver simples e de família modesta, apesar de há muito andar à procura de outrem que o vestisse, ainda não o tinha conseguido fazer. E era assim que olhava para mim, como que pedisse clemência, desejando libertar-se daquele traste barrigudo.

Teria de bom grado pegado num fósforo para o libertar da agonia mas creio que isso poderia libertar gases tóxicos e eu, sou contra os gases tóxicos desde pequenino...



| bruxelas | 15 de outubro de 2011 |

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