Estou sentado sozinho no meio do aeroporto. Tenho nas mãos uma garrafa de água que devo acabar de beber antes de passar pelo controlo de segurança. Ao meu lado senta-se um homem. Senta-se e suspira. Olha para mim. Não ligo. Olha para mim de novo e pergunta-me: "Monsieur, vous parlez français?".
É Engenheiro Mecânico a estudar/trabalhar na Bulgária. Em cinco minutos conta-me como perdeu o avião para a Argélia. O autocarro que o trazia de Varna para o aeroporto atrasou-se e o próximo avião é dentro de uma semana.
Estava a dormir no aeroporto. Sem dinheiro para ficar alojado num hotel. Sem visto para o espaço Schengen que lhe permitisse encontrar alternativas nos grandes aeroportos do centro da Europa. Sem qualquer apoio da embaixada argelina. Na Argélia já era fim-de-semana. Na Europa o fim-de-semana começava amanhã. A máquina de fazer salsichas, que é a burocracia fronteiriça, triturou um homem por engano mas ninguém a pode desligar.
A meio da conversa pergunta-me se conheço alguém na embaixada portuguesa que o pudesse desenrascar. Estava calmo e não me pediu dinheiro. Isso faz-me hesitar e puxar pela carteira. Hesito, hesito e não puxo pela carteira. Sei que 20€ provavelmente o desenrascavam por dois dias.
Dirijo-me ao controlo de segurança. Ninguém saberá da história deste homem. Nem eu próprio me lembrarei dela daqui a uns tempos.
Penso: uma viagem acaba sempre em casa.
[carregar na fotografia abaixo]
2 comentários:
Correcção de perspectiva é uma expressão muito rica e polivalente :)
É por estas e por outras que eu gosto muito de ti. a vida é cheia de emoções fortes e este caso deixou-me sensibilizada.
Pelas nossas vidas passam muitas pessoas e com histórias de vida que nem imaginamos.
Tens que agregar as tuas histórias e fazer uma brochura.... :)
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