terça-feira, outubro 02, 2007

Dia 7.1

Estou sentado sozinho no meio do aeroporto. Tenho nas mãos uma garrafa de água que devo acabar de beber antes de passar pelo controlo de segurança. Ao meu lado senta-se um homem. Senta-se e suspira. Olha para mim. Não ligo. Olha para mim de novo e pergunta-me: "Monsieur, vous parlez français?".

É Engenheiro Mecânico a estudar/trabalhar na Bulgária. Em cinco minutos conta-me como perdeu o avião para a Argélia. O autocarro que o trazia de Varna para o aeroporto atrasou-se e o próximo avião é dentro de uma semana.

Estava a dormir no aeroporto. Sem dinheiro para ficar alojado num hotel. Sem visto para o espaço Schengen que lhe permitisse encontrar alternativas nos grandes aeroportos do centro da Europa. Sem qualquer apoio da embaixada argelina. Na Argélia já era fim-de-semana. Na Europa o fim-de-semana começava amanhã. A máquina de fazer salsichas, que é a burocracia fronteiriça, triturou um homem por engano mas ninguém a pode desligar.

A meio da conversa pergunta-me se conheço alguém na embaixada portuguesa que o pudesse desenrascar. Estava calmo e não me pediu dinheiro. Isso faz-me hesitar e puxar pela carteira. Hesito, hesito e não puxo pela carteira. Sei que 20€ provavelmente o desenrascavam por dois dias.

Dirijo-me ao controlo de segurança. Ninguém saberá da história deste homem. Nem eu próprio me lembrarei dela daqui a uns tempos.

Penso: uma viagem acaba sempre em casa.

[carregar na fotografia abaixo]

2 comentários:

leandro ribeiro disse...

Correcção de perspectiva é uma expressão muito rica e polivalente :)

Cremilde disse...

É por estas e por outras que eu gosto muito de ti. a vida é cheia de emoções fortes e este caso deixou-me sensibilizada.
Pelas nossas vidas passam muitas pessoas e com histórias de vida que nem imaginamos.
Tens que agregar as tuas histórias e fazer uma brochura.... :)