Acho que se me perguntassem de repente, num impulso imprevisto, numa interrogação inesperada, se era a favor ou contra o casamento de homossexuais, diria obviamente que sou contra.
Mas pronto, o mundo não é a preto e branco.
Transcrevo parte de uma conversa que tive há dois anos:
<2006>
A questão é então a seguinte: o casamento civil existe. Certo. Há hetero que se querem casar. Certo. Há homos que se querem casar. Certo. Estou disposto a apoiar todos os passos a dar no sentido dessa igualdade? Estou. Mas a minha opinião sobre o casamento mantem-se. É uma coisa que é mais do âmbito dos direitos de propriedade, das heranças, partilhas e quejandos do que do âmbito dos afectos. Para que serve o casamento? Para reproduzir práticas sociais civis que resultam de hábitos culturais determinados historicamente por práticas religiosas. Reconheço nuances em tudo isto, mas assim percebe-se melhor o argumento. :)
Portanto: queremos igualdade? Sim. Queremos casar-nos? hummm... não.
Analogia: Queremos que as mulheres vão à tropa? hummm... sim. Queremos que homosexuais o possam fazer? humm... Sim. Queremos nós próprios bater lá com os costados? Nem pensar!
2006>
| Pride LGBT | Lisboa | Junho 2004 |
3 comentários:
É verdade. O casamento é uma coisa que é mais do âmbito dos direitos de propriedade, das heranças e partilhas do que do âmbito dos afectos.
A propósito: choca-me que duas pessoas homossexuais vivam numa união de vida durante 50 anos e que, depois do falecimento de uma delas, a outra não possa herdar mais do que a quota disponível do testador e, isto no caso do falecido se ter lembrado de fazer um testamento.
É certo que existem as hipóteses da compropriedade designadamente nos imóveis, mas isso pode não ser suficiente para obviar à injustiça.
E quanto ao facto do casamento se encontrar ancorado em razões de ordem religiosa, direi:
"a tradição já não é o que era" :)
aliás, conheço dois indivíduos que, estando "casados" afectivamente, acabaram por se casar só porque estavam na iminência de comprar uma casa - e o casamento é o contrato mais simples que assegura todas essas coisas dos direitos de propriedade, heranças e outras que tal.
se me falasses da adopção por casais homossexuais, aí teria sérias dúvidas; quando ao casamento, creio que a sua proibição não é menos do que desumana.
e fon-fon-fon, que se lixe o romantismo! ;)
Concordo que o casamento possa não ter nada a ver com afectos: para ti, para mim, para outros que tais. Mas há pessoas para quem o casamento é importante, independentemente de serem hetero ou homossexuais. E não tem forçosamente de ser algo ligado à religião. Para alguns há uma simbologia de união que, apesar de não a entender, aceito e respeito.
Além do mais, temos todas as questões legais de partilha, heranças e etcs. Existem, são um facto e, tal como os heterossexuais têm direito a salvaguardá-las, também os homossexuais o devem poder fazer.
Se a homossexualidade é uma realidade, se as uniões existem, porque não aceitá-las com as mesmas características que as uniões entre hetero? Não é exactamente o mesmo que obrigar as pessoas a casarem-se, mas dar-lhes a liberdade de escolha, a igualdade que os que não são homossexuais têm.
Pegando no comentário do luciano lema, mesmo as adopções por homossexuais, que até já são uma realidade, não sei se não as apoiaria. Mas essa já é uma questão que me levaria a pensar antes de responder, porque ser homossexual não significa incapacidade de educar uma criança. Talvez até signifique aptidão para preparar um ser humano a aceitar melhor a diferença. Mas depois há os outros, os ditos normais, a crueldade das criancinhas entre si, os ditos jocosos dos paizinhos, repetidos pelos infantes.... Caso a ponderar... mas, provavelmente, não temos uma sociedade preparada para tanta igualdade em relação à diferença.
Casamento? Para quem o queira!
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