segunda-feira, outubro 06, 2008

Querida Deolinda...

O que se segue é pura ficção. A realidade é que comprei o disco da Deolinda. E que bela surpresa. Corram, corram...

Querida Deolinda,
os dedos tremeram-me. Na verdade, os dedos tremem-me. Comecei por escrever-te esta carta uma dúzia de vezes. Umas tantas vezes fechei o Eudora e desliguei rapidamente o computador que o meu tio que é professor deixou cá em casa. É um computador velho e como imaginas demora muito tempo a desligar. Enquanto esperava, logo ficava nervoso e com vontade de o voltar a ligar para que te pudesse finalmente escrever. Mas como sabes, os dedos tremiam-me e voltava a desliga-lo.

Quero que saibas que nunca conseguirei viver aí na cidade. Há muito barulho e nunca se pode andar descansado pela rua fora. Quando éramos miúdos gostava de vos visitar sempre. Havia sempre muita luz de noite, bolachas boas e refrescos de laranja.

Não sei como conseguiria viver sem o cheiro da carqueja a arder logo pela manhã... Bem sei que achas que por aqui somos todos brutos. Eu não sei que te diga. Os dedos tremem-me.

E mesmo que me achas um bruto, digo-te que o que me atormenta todas as noites. Penso nos filhos lindos que teríamos se um dia eu conseguisse que o teu coração voltasse para mim.

Nas noites frias poderíamos olhar abraçados para o céu à porta de casa.
No verão dançaríamos até cair em frente ao adro.
Ao Domingo mataríamos um galo para as visitas.
Haveria sempre presunto e queijo na mesa.
Poderíamos desligar de vez esta merda deste computador.

Querida Deolinda, tremem-me os dedos porque penso nos teus lábios. Ao fim da tarde, lá do cimo do monte, olho para as nuvens e começo a cantarolar. Como se isso me bastasse...


| VCI | Porto | 2007 |

1 comentário:

Elsa Castelo disse...

Também nós, desde Julho, temos ouvido o disco vezes sem conta ...