Durante muito tempo, para mim viajar sempre foi coisa de me deixar nervoso. Isto não implicava nada de especial: uma noite mais mal dormida, um pequeno almoço tomado ainda antes do nascer do sol... Não vejo grandes razões para isso. Mas lembro-me dos tempos em que viajava com os meus pais e em que me fui habituando a pensar que qualquer esquecimento na preparação de uma viagem era de uma grande gravidade. Longe de casa estaríamos sempre perdidos como se viajássemos para os himalaias.
As vésperas de viagens de automóvel já não me deixam qualquer nervosismo, mas quando há um avião pelo caminho, é verdade que fico com uma impressão na barriga. Não tenho qualquer fobia de aviões, nem medo. A verdade, é que depois do check-in feito, sentado num desconfortável banco de aeroporto, fico imediatamente tranquilo.
Mas pior que os aviões em si, são as horas de espera por uma ligação, num sítio de onde não se pode sair e onde tudo o que se pode fazer é gastar dinheiro. Não consigo concentrar-me o suficiente para ler, não consigo inspiração para fotografar seja o que for e começo a pensar nos filhos da puta dos terroristas sauditas e nos filhos da puta dos militares americanos e nas filhas da puta das bombas de ambos, que me obrigam a tirar o cinto, a descalçar e a mostrar como sou efectivamente um rapaz inofensivo e que os meus rolos fotográficos não transportam duas toneladas de explosivos de fabrico caseiro.
Acho que podia explicar que só quero mesmo ir visitar um amigo com quem possa insulta-los a todos, em frente a um bom prato de comida. O meu alemão anda pelas ruas da amargura - penso de mim para mim, para me desculpar.
| cabines | aeroporto de frankfurt | junho de 2007 |
Sem comentários:
Enviar um comentário