terça-feira, agosto 14, 2007

Dia 1.1

Eu sabia que ele não fotografava há anos. Desde que a mãe tinha morrido, não parecia haver ninguém capaz de olhar para aquilo que os olhos dele viam pelo mundo fora. Nem sequer ele próprio.

Eu trouxe-lhe uma máquina fotográfica nova - digital. O dia não é o melhor. O sol está demasiado forte. Ainda assim deve até haver quem goste. Vejo-o a apontar a máquina. É como se o mundo fosse um corpo de um cão caído ao lado da estrada, de quem ele se aproxima, e a quem dá, a medo, pequenos toques com o pé. Primeiro uma estátua, depois um monumento, finalmente vejo-o a fotografar de longe alguém.

Ele diz que não gosta de incomodar. Eu digo-lhe que não pode fotografar pessoas sem que elas saibam que estão a ser fotografadas. Pondero pegar na grande angular e fotografar quem ele fotografou. Olho duas ou três vezes... não me inspira.

Passeamos pelo jardim até ao monumento aos partisans. Todo vandalizado. Alguém desarmou os soldados de metal. Ninguém tolera por aqui qualquer vestígio do poder estalinista. Bem vistas as coisas, fazem bem.



| monte dos irmãos | sófia | bulgária |junho 2007

Sem comentários: