segunda-feira, dezembro 31, 2007

Copos sábado à noite?

O cheirinho de alecrim.

O tabaco em si é apenas uma planta. Como provavelmente muitos de vocês sabem, uma das coisas que me chateia há muitos anos é vir para casa com perfume a tabaco. Por qualquer motivo que não posso explicar por completo incomoda-me o cheiro. Não me incomodam o cheiro de outras plantas. Por exemplo, o alecrim, o tomilho, os oregãos ou o louro. Gosto até bastante de coentros. Tabaco, confesso que nunca apreciei.

Pouca gente saberá quais os efeitos de passar o dia a queimar louro seco e a metê-lo para dentro dos pulmões. Ou alecrim, oregãos ou coentros. Dito assim parece uma coisa bastante ridícula, não é verdade? Quem se lembraria de fazer semelhante disparate? Mas pelos vistos há quem tire um prazer enorme em fazê-lo com outras plantas, sendo o tabaco uma delas... Eu ainda assim continuo a achar que os coentros são melhores fresquinhos no prato, do que queimados depois de secos.

a liberdade.
Assustam-se muito os proprietários de cafés, bares e restaurantes com a nova lei sobre o tabaco. Os jornalistas fazem coro. Os fumadores, passarão a ser oprimidos e certamente haverá até quem já se tenha dedicado a explicar como a lei é pura e simplesmente fascista. A liberdade dos fumadores está posta em causa! Estou a ficar careca, mas fico com os cabelos em pé de cada vez que penso que a liberdade está posta em causa. Nem pensar nisso! Tenho muitos amigos fumadores, como vão agora tirar-lhes essa liberdade? Nã, nã, nã... que eu também sei daquela citação do Brecht...

old school rulez.
Os revolucionários franceses do séc. XVIII perceberam muito bem essa coisa da liberdade. E perceberam-na tão bem, que a fecharam num círculo com outros dois conceitos: a igualdade e a fraternidade. Qualquer um destes, sem os outros dois, seria despido de sentido. Até agora a regra tem sido olhar para o tabagismo como a liberdade de fazer fumo em sítios fechados, em nome do prazer próprio ou doutra coisa qualquer que eu não estou em condições de perceber. E essa era a regra. A mim que me chateava o cheiro da dita planta, restava-me a liberdade de não frequentar cafés, bares e (aqui para nós que ninguém nos ouve) a liberdade de deixar de participar em determinadas reuniões, mesmo que cercado de camaradagem ecologista. Exerci essa liberdade (e continuarei a fazê-lo) muitos anos.

Ponho-me para aqui a pensar com os meus botões, enquanto vejo notícias que anunciam que muitos bares, discotecas, restaurantes de luxo e tascas das mais rascas vão abrir falência. Imagino que não abram falência logo no próprio dia 1 de Janeiro de 2008. Primeiro porque é feriado e segundo porque suponho que toda a gente terá curiosidade em ver como será, antes de abrir falência. Mesmo com a crise, toda a gente tem um pequeno pé de meia. Lá para Fevereiro estará certamente instalado o caos.

Eu estou habituado a ser minoria. Não é bem uma questão de estilo. Será outra coisa qualquer. Eu gosto de pensar que tem a ver com o discernimento - mas essa pretensão pode ser muito bem o primeiro sintoma de como estou enganado. Mas no meio desta história acho que não sou minoria. Pelo contrário, por uma vez acho que faço parte da maioria - um bolchevique afinal.

ano novo
Uma das mudanças que vejo como certa na minha vida em 2008, será certamente o facto de começar a sair mais vezes à noite. Melhor dizendo, não é bem mais vezes - porque agora nunca saio - trata-se de recomeçar a sair à noite. De cada vez que o fizer, pode ser que ajude o dono de algum bar a salvar-se da falência certa. Mas sendo os não fumadores a maioria, talvez a história venha a revelar-se diferente. Ainda assim, não tenho pretensões a adivinho.

Tenho pena que em Portugal uma lei tão sensata tenha sido implementada por um dos governos mais coerentemente e "espertamente" neo-liberais. Posso estar enganado, mas penso que nesta lei pesaram mais os técnicos do Ministério da Saúde, que o programa do governo PS.
Tenho pena que esta lei não tenha sido imposta pelos sindicatos, como uma das formas mais elementares de protecção dos trabalhadores - sobretudo dos que trabalham na restauração.
Tenho pena que tenha sido uma decisão da tecnocracia. É que é sabido, a tecnocracia, ainda que acerte às vezes, falha muitas outras.
Tenho pena que na esquerda, a liberdade de poluir surja como uma contraponto a outra coisa qualquer sempre apresentada como sendo muito (mas muito!) mais importante - a liberdade de ser informado (tanta gente que deve desconhecer os malefícios do tabaco, não é?), de ser estimulado de mil e uma maneiras a deixar o vício (mas então não somos livres de escolher?), a liberdade de ter tratamentos anti-tabágicos pagos (mas... mas... mas... os maços de tabaco, quem os paga afinal?).
Tenho pena que o meu partido tenha tomado a posição ridícula que tomou.

No meio de tanta pena não posso deixar de sorrir ao saber que os deputados não poderão invocar imunidade parlamentar e terão que fumar na rua, fora da assembleia. Dickens teria certamente escrito um livro maravilhoso sobre a questão. Mas fico curioso sobre quem se arriscará a uma conversa de circunstância com o Paulo Portas, na soleira da porta de entrada.

2007 foi o que foi, 2008 será o que será. Eu estou cá para que sejam diferentes um do outro.



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sexta-feira, dezembro 28, 2007

Momento raro de optimismo.

Há semanas que sinto prazer em pensar que de todos os sítios do mundo onde poderia viver, Portugal tem coisas extraordinárias que merecem ser desfrutadas. O quê? -perguntou-me traiçoeiramente um amigo. Não fiz ainda essa contabilidade, a lista detalhada de todas essas características e respectivas ponderações. Garanto. Ela existe e foge às banalidades que facilmente nos poderiam vir à cabeça de imediato, como o bom tempo e a boa comida. O facto de grande parte destas coisas serem invisíveis deixa-me um encanto ainda maior.

E no entanto sinto-me muitas vezes um estrangeiro no meu próprio país. Há muitos dias do ano que percorro estradas e ruas desertas. A semana passada, às dez da noite, percorri de carro uma das mais movimentadas auto-estradas das redondezas. Ao longo de mais de 50 kms passei por três carros. Pelos vistos, nenhum de nós devia estar ali. Eu na verdade não estava: sonhava com outro país, mas quase igual a este. Não me peças para explicar.



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segunda-feira, dezembro 17, 2007

Um dia serei despedido.

Sairemos de casa um dia muito cedo. Como se tivéssemos apenas seis dias de vida e uma lista de centenas de coisas fundamentais por fazer. Serão talvez quatro da manhã e não haverá ainda luz do dia. Ao nascer do dia já estaremos sobre a planície castelhana, o pôr do sol será sobre a planície monótona do centro de França. Pelo caminho vamos passando as placas de estrada, como quem cospe caroços de cereja.

Será a última vez que nos levantaremos tão cedo. Não serão seis dias que nos restam, mas um mês ou dois ou três de férias. Só madrugaremos nesse dia para esquecer rapidamente a vontade de fugir. Não vamos precisar de despertador durante uns tempos, mas mesmo que precisássemos, em caso de dúvida seria sempre posto a despertar mais tarde e não mais cedo. Nas bifurcações e no planeamento dos percursos, em caso de dúvida, escolheremos sempre o caminho mais longo. Sentados perante um menu de um restaurante, em caso de dúvida, escolheremos sempre a opção mais cara. Em todas as cidades o carro será estacionado num sítio qualquer e elas serão demoradamente percorridas a pé. Em caso de dúvida não tiraremos fotografias. Compramos postais. Tiramos fotografias tipo passe. Recortamos as últimas e colamo-las sobre os primeiros. Tudo já foi fotografado. Em momentos de tédio tomaremos um duche rápido para nos beijarmos longamente numa tenda ao frio ou num quarto alcatifado de um hotel.

Numa só cidade passaremos um mês inteiro.

Ao voltarmos a casa, tu com pêlos nas pernas e eu com uma barba de semanas, podia dar-se o caso de termos dois processos disciplinares sumários à nossa espera. Nesse caso só nos restaria uma saída: vender a merda do carro (que teria quilómetros a mais) e ir para o Canadá.



| :) | 2007 |

sexta-feira, dezembro 07, 2007

É mesmo verdade.

Ele há coisas que só se percebem com a idade.
Não falo evidentemente daquela consulta de urologia que marquei ontem.


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quarta-feira, dezembro 05, 2007

Desalfandegar uma encomenda.

[continuação do episódio anterior]

Sequência cronológica de acontecimentos.

*Descubro o balcão da Alfândega. Vazio [penso: estou com sorte.]. Lá atrás um homem levanta-se para me atender. Explica-me que antes devo dirigir-me aos serviços do aeroporto.

*Logo em frente estão os serviços da portway. Entrego a papelada que me deram na DHL, assino uns papéis e avanço confiante para a Alfândega.

*Não trouxe o cartão de contribuinte nem sei o número. Não tenho o comprovativo de pagamento do Paypal. O homem da Alfândega não é propriamente muito risonho, mas é bastante solícito. Pergunto-lhe se outra pessoa pode levantar a mercadoria por mim.
-Sim, mas diga então quanto pagou.
-Está aí na nota de encomenda o custo da mercadoria e dos portes, veja lá.
-Muito bem, vamos lá tratar disto. Como isto vem dos EUA ainda vá, se fosse chinês nada feito.
[ufff...]
-O que é que é?
-Uma camisa, roupa de bébé...
[interrompe-me ele antes que eu diga que comprei dois pares de cuecas de mulher. É uma pena. Era a minha oportunidade de lhe sacar um sorriso.]
-Vestuário, não é? Paga 12%.

*Sou chamado a um hangar onde me aparece o caixote que me é dirigido. Fico bastante surpreendido. O caixote é enorme. Estava à espera de um envelope. Lá se abre aquilo e confirma-se que dentro da enorme embalagem estavam meia dúzia de reles peças de roupa.

*Volto para a Alfândega. Entra um guarda fiscal que fala como se estivesse com uma carraspana tremenda. Fala entre dentes e com uma voz abafada. Não percebo patavina do que diz mas percebo que trata quem me atende por Sr. Dr. :|

*Recebo de volta mais uns papeis. Devo agora dirigir-me à tesouraria. Lá vou para o piso de cima. Descubro a tesouraria. Pago 25 euros e pouco. O troco que recebo é tirado de um mealheiro de lata. A fazenda pública tem o seu charme.

*Volto para o piso inferior. Entrego a prova de pagamento, recebo mais uns papeis. Devo agora dirigir-me de novo aos serviços aeroportuários.

*Penso que finalmente me será entregue a encomenda. Puro engano. Devo agora pagar mais 22 euros porque o caixote esteve "estacionado" no armazém 5 dias. Pago. Ainda não é desta que recebo o caixote.

*Devo agora dirigir-me a outro balcão. Entrego a papelada toda, assino mais um papel de não sei quê e zás: tenho nas mãos um caixote enorme (praticamente vazio!) que me custou 100€. :)

Estou chateado? Nem por isso. O que me custa mais é ter que me meter no carro e seguir em direcção ao centro. Detesto ir trabalhar de carro.

Curiosamente, estacionar o carro três horas no centro da cidade é tão barato como deixar um reles caixote pernoitar no armazém do aeroporto de pedras rubras...


| dos balcãs guardo boas recordações de portugal | sófia | junho de 2007 |

terça-feira, dezembro 04, 2007

As compras pela internet.

Sento-me em frente ao monitor, como já não o fazia há algum tempo. Não só com algum tempo livre, mas sobretudo com disponibilidade mental para escrever qualquer coisa. Ora mas ter disponibilidade não significa que se escreva. E melhor ainda que isso. É que qualquer coisa é mesmo qualquer coisa e como facilmente se depreende deste parágrafo, é fácil dar voltas e voltas sem se dizer nada. Um pouco à José Luis Peixoto. Não diria um estilo, antes uma prática. Detesto-a. :)

Aqui há uns tempos atrás, nem sei bem de que forma, tropecei numa paródia de site nos Estados Unidos (este pormenor revelar-se-á importante para o desenrolar da acção). Click puxa click, gargalhada puxa gargalhada e vai daí em menos de nada estava a pensar que com a desvalorização do dólar, as coisas não ficavam assim muito caras. Comprei pouco menos de dez contos de palermices. E saibam que me custa dar dinheiro aos americanos. É assim uma espécie de princípio simples...

Um dia, estou eu longe de casa (longe de casa é, p.ex., em Lisboa, que não é sequer muito longe bem vistas as coisas) quando me apita o telefone. Sinto um certo frisson. Quem não sente um frisson ao receber um sms, hã?

(DHL) Envio da Thinkgeek dos EUA, carta de porte ****** retido na Alfândega. Pf contactar DHL, ######, Cumprimentos, Daniela

Decido ligar (demonstro alguma inteligência nos meus comportamentos, não é verdade?).

-Boa tarde, estou a ligar para saber o que é necessário para desalfandegar a carta de porte *****. 30€ mais os impostos devidos? Mas a encomenda não chega aos 50€...! E posso ser eu próprio a tratar disso? Muito bem... Faça o que tem a fazer que eu próprio vou à Alfândega. Qual é o horário, sabe-me dizer? Das 09:00h às 12:30h e das 14:00h às 17:00h... Muito bem, que rico horário! [rais parta. c@r@g0 lá para os serviços de alfândega (isto dentro de parênteses rectos sou eu a pensar, não foi o que eu disse à senhora que estava a ser muito educada comigo)]. Sim senhora, fico à espera do vosso contacto.

Assim se passaram três dias úteis até que ontem recebo um telefonema da DHL a dizer-me que toda a papelada estava pronta.

Aviso o chefe de que excepcionalmente chegarei atrasado. Não há crise. Tenho bom ambiente de trabalho e quando me toca a mim também facilito a vida à empresa.

Entro no carro às 08:30h. Detesto pegar no carro à semana. Só para sair do meu quarteirão demoro quase 5 minutos. Detesto conduzir à semana. Vejo o trânsito todo em sentido contrário. Detesto o trânsito matinal dos dias de semana.

Estou sentado em frente à recepção da DHL às 08:50h. Só abre às 09:15h. Juro que me disseram ao telefone que abria às 09:00h. Que interessa isso agora?

A senhora entrega-me a papelada e vou para o aeroporto. Agora começa a aventura. :)

To be continued... [como dizem os americanos]



| porto | setembro de 2007 |